Tudo vai bem e de repente você é surpreendido por uma adversidade, um grande problema. Tudo parece ruir… Mas será mesmo o fim? Hoje resolvi trazer um conto muito interessante da tradição mística islã, que aborda de forma metafórica e maravilhosa essas questões.

Trata-se do conto de Fátima, a fiandeira. Vale muito a pena ler e refletir as importantes lições desse conto.

A história de Fátima, a jovem fiandeira


Em uma cidade do distante oriente, vivia um próspero e bem-sucedido fabricante de fios, que fornecia seus produtos para todos os povos ao redor do mar Mediterrâneo. O fiandeiro tinha uma jovem e formosa filha, chamada Fátima.

Um dia seu pai lhe disse:

– Filha, vou fazer uma viagem de negócios para as ilhas do Mediterrâneo e você me acompanhará. Quem sabe nessas regiões você encontre um jovem atraente e de boa posição com quem possa se casar?

E assim se fez, partindo os dois em viagem: o pai tratando de seus negócios e Fátima sonhando com o homem que poderia se tornar seu marido.

Infelizmente, quando se dirigiam para a ilha de Creta, o navio foi surpreendido por uma forte tempestade. O barco não foi páreo para a violência da tormenta. Quebrou ao meio e naufragou.

Apenas Fátima sobreviveu agarrada a um destroço. Três dias depois foi parar em uma praia perto de Alexandria, semiconsciente, entre a vida e a morte. Exausta e aturdida pela experiência do naufrágio, deu-se conta de que com o pai e os companheiros de viagem mortos, ela estava totalmente desamparada.


Fátima foi encontrada mais tarde por uma família de tecelões que, embora pobres, cuidaram dela e a acolheram em sua casa como filha. Também ensinaram a ela o ofício de produção de tecidos.

Aos pouquinhos, Fátima foi voltando a ser feliz, resignando-se ao seu destino e à sua sorte. Contudo, alguns anos depois, quando Fátima passeava pela praia, foi surpreendida pelo desembarque de um bando de mercadores de escravos que a capturaram e a levaram presa junto com os outros cativos.

Novamente o mundo da jovem desabou… Sem nenhuma demonstração de compaixão por parte de seus captores, Fátima foi levada para o mercado de escravos de Istambul, na Turquia, para ser leiloada e comprada por quem estivesse disposto a pagar mais.

Quis o destino que nessa ocasião houvesse poucos compradores no mercado. Entre eles, um fabricante de mastros para embarcações, que tencionava adquirir um escravo forte para trabalhar em sua serraria.

Porém ao perceber a abatida jovem com ar desolado, sentiu seu coração condoer-se pela sua situação e decidiu comprá-la para servir como criada pessoal para sua esposa. Assim a jovem escrava teria uma vida um pouco melhor do que se fosse comprada por algum outro comprador inescrupuloso.

Ele pagou o valor pedido pelos mercadores e levou a moça para sua casa. Fátima ficou de certa forma aliviada e grata pelo resgate, pois percebeu que o homem era bondoso.

Porém, ao chegar aos portões da serraria, mensageiros aflitos os aguardavam. O carregamento de madeiras que o fabricante de mastros estivera esperando por meses tinha sido capturado por piratas. O homem havia investido todo o seu dinheiro nessa carga e agora tudo estava perdido. Desesperado com a situação e ciente de que não poderia mais pagar os seus empregados, dispensou todos eles. Assim, ele mesmo, sua mulher e Fátima se encarregariam sozinhos da tarefa de continuar com a produção dos mastros.

Fátima, por força da gratidão, trabalhou tanto e tão bem que, após alguns anos, seu dono lhe concedeu a liberdade e a nomeou sua auxiliar de confiança. Ela ajudou seu patrão a se reerguer economicamente e também voltou a sorrir novamente, um pouco mais conformada com seu destino.

Um dia seu mestre a chamou e expressou seu desejo de enviá-la para Java junto com um carregamento de mastros para que ela os vendesse com um bom lucro.

Obediente, Fátima mais uma vez entra em uma embarcação para cruzar o oceano desconhecido. Quando o barco se aproximou das imediações da costa chinesa foi surpreendido por um tufão. Pela segunda vez Fátima foi vítima de um naufrágio. Somente ela e mais uns poucos companheiros sobreviveram ao acidente e se viram jogados nas praias de um país inteiramente desconhecido.

De novo, Fátima chorou amargamente sua sorte. Sentia que nada em sua vida acontecia da forma que esperava. Sempre que ela pensava estar indo bem algum imprevisto acontecia e destruía seus sonhos e esperanças.

“Por que eu devo passar por tantas desgraças? Por que nada dá certo?”

Após um longo tempo de lamento, já sem mais lágrimas para chorar, levantou-se e passou a procurar ajuda para si e para seus companheiros feridos.

Fátima ainda não sabia, mas na China existia uma lenda de que um dia chegaria uma certa mulher estrangeira que seria capaz de fazer uma tenda para o imperador. Como nessa época ninguém na China sabia fazer tendas (aliás, os chineses não sabiam muita coisa nessa época), tanto o imperador como o povo aguardavam com impaciência e grande expectativa o cumprimento dessa profecia.

Tanto que, para ter certeza de que a mulher estrangeira não passaria despercebida pelo país, uma vez por ano o imperador enviava mensageiros à todas as cidades e vilarejos da China para pedir que toda mulher estrangeira fosse encaminhada imediatamente à presença do imperador, na corte.

Foi exatamente no dia de uma dessas buscas imperiais que uma esgotada e desolada Fátima chegava ao vilarejo de pescadores procurando por ajuda.

Por meio do intérprete que sempre acompanhava os mensageiros, Fátima ficou sabendo, para sua grande surpresa, que ela era uma convidada do próprio imperador e a ele foi conduzida.

— Minha mui estimada senhora — disse o imperador quando Fátima foi levada até ele — sabes por acaso como fabricar uma tenda?

Fátima puxou pela memória, procurando lembrar-se de todas as tendas que tinha visto em suas viagens e respondeu ao imperador.

— Acho que sim, Majestade.

Para começar o trabalho, Fátima pediu cordas. Porém os chineses não tinham. Lembrando-se dos tempos de fiandeira na casa de seu pai, Fátima colheu linhos e fez ela mesmo as cordas.

Depois Fátima pediu aos chineses um tecido resistente. Mas os chineses não tinham do tipo que ela precisava. Então, utilizando a experiência adquirida com os tecelões de Alexandria, ela mesmo fabricou um tecido forte, do tipo próprio para tendas.

Fátima percebeu que ia também precisar de estacas para sustentar a tenda, mas adivinhe só? Não existiam na China tais estacas. Lembrando-se do que aprendera com o fabricante de mastros em Istambul, Fátima fabricou várias estacas firmes e resistentes.

Ela então foi capaz de construir uma bela tenda com esse material.

O imperador da China ficou tão satisfeito com o resultado que ele se prontificou a satisfazer qualquer desejo que Fátima expressasse. Ela escolheu morar na China, onde se casou com um belo príncipe e, rodeada por seus filhos, viveu muito feliz até uma idade avançada.

Conclusão

Esse conto mostra a relevância de valorizar nossas experiências e lições de vida. O que num primeiro momento pode parecer uma derrota pode se mostrar valioso num próximo momento de vida.

Temos uma tendência de valorizar demais o que nos acontece no curto prazo. Com isso passa despercebido o poder do que se pode realizar no longo prazo. Nunca desconsidere o poder de uma década!

Que lições você tira para a sua vida a partir da história de Fátima?

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Sobre o Autor

Antonio Albiero
Antonio Albiero

Antonio Albiero é Mentoterapeuta Integrativo, Engenheiro e Educador. Atua na indústria há 30 anos e há mais de uma década tratando, mentorando evoluindo e desenvolvendo pessoas.

2 Comentários


  1. Fátima… mulher sábia, que fez das adversidades da vida um trampolim.
    Felizes os que conseguem aplicar seus seus ensinamentos…